O album Sgt. Pepper’s Lonely Heats Club Band dos Beatles foi um ícone numa era conhecida por catapultar o psicadélico para o mainstream. Toda a gente queria ligar-se ao “Lucy in the Sky with Diamonds”, então as drogas tornaram-se uma parte preponderante da cultura artística. Mas como é óbvio as drogas já tinham um impacto na cultura muito antes da década de 1960.
Salvador Dalí disse uma vez famosa: “Eu não uso drogas. Eu sou drogas”. Isto não era um anúncio de “dizer não às drogas”, mas sim uma exaltação. Ele estava, de certo modo, a afirmar que seu próprio trabalho poderia induzir os estados alternativos provocados pelas drogas. Baudelaire, o autor decadente retratado na obra de arte de hoje, teorizou no seu livro Les Paradis Artificiels como as drogas podem ajudar a criar um mundo ideal.
Vários pensadores e artistas estavam cientes do poder das drogas. Nietzsche tomou ópio como tratamento para enxaquecas e náuseas; académicos ainda debatem sobre como isso pode ter inspirado seu trabalho. Jean-Paul Sartre injetou mescalina para melhor entender a consciência - um evento seguido por semanas de paranoia, pois ele pensava que estava a ser perseguido por lagostas gigantes! E o absinto era imensamente popular na França boêmia: Degas, Gauguin, Van Gogh, Lautrec, Baudelaire e muitos outros bebiam como fonte de inspiração.
O próprio Platão participou nos Mistérios Eleusinos - eventos místicos realizados na Grécia antiga - onde os participantes bebiam uma poção psicotrópica chamada kykeon. Platão fez um comentário sobre as suas experiências: “sendo permitido como iniciados à visão de aparições perfeitas, simples e calmas e felizes, que vimos na luz pura, sendo nós mesmos puros e não sepultados naquilo que levamos connosco e chamamos o corpo”. Essa pode ser a origem do dualismo mente / corpo, um argumento estrutural usado desde o cristianismo para o famoso "Eu penso, logo existo" de Descartes. A prevalência de alucinógenos e narcóticos é tal que podemos até questionar se as drogas são talvez uma pedra angular da filosofia ocidental.
O livro de Norman Ohler, Der Totale Rausch, debate o uso de drogas durante a Alemanha nazi, onde o consumo de metanfetaminas era preponderante. Pervitin, uma metanfetamina, era consumida por donas de casa e trabalhadores para aguentar o dia a dia - era vendida sem qualquer prescrição médica. Entre 1925 e 1930, só a Alemanha produziu 40% da morfina mundial.
Mas e as drogas consumimos hoje em dia? Claro que nem toda a gente é viciada em cocaína, mas e os antidepressivos, álcool e cafeína? Não é estranho como isso é socialmente aceite em relação a outras drogas leves?
Eu tenho uma certa curiosidade, embora saiba que implementá-la seria perigoso: e se deixássemos os atletas usarem drogas e melhorar a performance, para que pudéssemos ver até que ponto o corpo humano pode ir (artificialmente)? Claro, isso pode ser desastroso, mas a pergunta fica no ar...
- Artur Deus Dionisio