O Prestidigitador (O Prestidigitador Gráfico Demonstrando a Arte Completa do Engano Ótico) by Nathaniel Hone - 1775 - 145 x 173 cm O Prestidigitador (O Prestidigitador Gráfico Demonstrando a Arte Completa do Engano Ótico) by Nathaniel Hone - 1775 - 145 x 173 cm

O Prestidigitador (O Prestidigitador Gráfico Demonstrando a Arte Completa do Engano Ótico)

Óleo sobre tela • 145 x 173 cm
  • Nathaniel Hone Nathaniel Hone 1775

O pintor irlandês Nathaniel Hone I (1718-1784) foi um dos membros fundadores da Academia Real Britânica, mas fartou-se e acabou por sair. Isto porque invejava o primeiro presidente da Academia, Sir Joshua Reynolds (1723-1792), tendo zombado de Reynolds abertamente na sua pintura “O Prestidigitador”.

Reynolds era famoso na época – e ainda é hoje – por desenvolver um novo estilo de pintura que tornou a arte do retrato quase tão importante quanto a pintura histórica. Um dos elementos desse novo estilo foi incorporar diversas referências aos antigos mestres. Demasiadas referências, de acordo com Hone. Assim, Hone retratou Reynolds como um feiticeiro conjurando pinturas novas de antigas gravuras de mestres. Basicamente, sugeriu que Reynolds era um charlatão que relegava a sua pintura no roubo dos temas e motivos dos seus mestres para criar. Hone foi rigoroso com a sua crítica. Mostrou gravuras retratando obras que Reynolds havia efetivamente referenciado nas suas telas, usando um dos modelos frequentes de Reynolds para ser o prestidigitador.

Como se isso não fosse suficientemente polémico, a Academia acreditava que a pintura também zombava de outro membro – Angelica Kauffman (1741-1807). A menina na imagem foi provavelmente concebida para representar Kauffman, uma pintora de retratos e pinturas de história bem-sucedida que pode ter tido um relacionamento com Reynolds. Além disso, também havia o grupo de figuras nuas. Originalmente localizadas no canto superior esquerdo da pintura, foram retratadas brincando no exterior da Catedral de São Paulo em Londres. Tal seria, supostamente, uma referência aos membros da Academia, incluindo Reynolds e Kauffman, que pintavam frescos para a Catedral na época. Uma dessas figuras, uma mulher vestindo apenas meias pretas, foi interpretada como uma representação obscena de Kauffman. A Academia sentiu-se tão insultada com isso (e, presumivelmente, com toda a pintura), que rejeitaram a obra para a exposição oficial da Academia. Hone afirmava que ele não tinha intenções de que a mulher nua representasse Kauffman, e trocou toda a cena com homens completamente vestidos. Entretanto, se estiverem curiosos(as), podem ver a escandalosa versão original no desenho de Hone para a pintura, agora no Tate Britain.

- Alexandra Kiely

P.S.: Espreitem aqui estes retratos de crianças, tão amorosos, de Joshua Reynolds!