O Inferno

Depois do “Reflexões da Arte” da passada quarta-feira, ficámos a pensar sobre o controverso "Desenho Apagado de Willem de Kooning", o qual causou algumas reações intrigantes por parte de utilizadores da DailyArt que nos escreveram. Visitava ontem uma museu quando esta obra captou o meu interesse: não devido ao tema infernal (ainda que este deixe uma impressão deveras forte), mas por causa do que a pintura deixa implícito - sim, consegue perceber? Há franciscanos a arder no Inferno! E quando me acerquei, indagando "Quem se atreveria a fazer uma declaração tão acutilante em pleno fervor seiscentista português?", reparei em algo interessante: tinha sido criada por um artista desconhecido. Recordei-me então de uma afirmação de um dos utilizadores que escreveram sobre a peça da semana passada. Dizia que muitos artistas contemporâneos criam algumas obras sem nexo só para ter sucesso e chamar atenção aos seus nomes. Compreendo esta posição, já me senti enganado ao visitar certas galerias de arte contemporânea... E esta pintura pareceu-me representar o diametralmente oposto – revela-nos logo uma mensagem em vez de sacrificar o nome.

Oscar Wilde disse, “O Homem é menos como si próprio quando fala enquanto si mesmo. Dêem-lhe uma máscara e dir-vos-á a verdade.” Na pintura, toda a alma que cai da espécie de furna no canto superior direito sofre uma tormenta correspondente ao pecado capital que cometeu: no caldeirão de água a ferver sofrem os invejosos; de cabeça para baixo, com os cabelos no lume, castiga-se o orgulho; onde um homem é forçado a engolir moedas, a avareza; a ganância, onde outro tem de beber o sangue de um porco; a ira, onde o sujeito sem cabelo é torturado; e a luxúria, no canto inferior direito, onde casais acorrentados são torturados por um demónio.

- Artur Deus Dionisio