Nas próximas três segundas-feiras, teremos o prazer de apresentar obras do Museu de Arte da Universidade do Indiana. Hoje, partilhamos consigo algo especial - um instrumento musical. Isto é algo inédito no DailyArt. Esperamos que goste!
Ao contrário de muitos instrumentos africanos, os quais são relativamente grosseiros no acabamento, este é paradigma de refinamento, graça e delicadeza, insuperável dentro do género. O corpo do instrumento e as varas delgadas a que se prendem as cordas foram polidos, não exibindo qualquer traço de ferramentas de talha. O mais notório, porém, é a cabeça eximiamente esculpida, com uma face serena e penteado elegante que lembram as máscaras feitas na região. Assim como estas, o rosto possui contornos delicados remetendo para um ideal de beleza feminina: testa arredondada, sobrancelhas arqueadas, olhos em forma de grão de café, nariz pequeno e queixo pequeno e saído. Uma análise da coloração da cara mostrou vestígios de caulinita, uma argila branca fina usada como pigmento para máscaras por toda a África subsariana. Estas associar-se-iam, originalmente, a ritos fúnebres; considerava-se que incorporavam as almas dos mortos. Desconhecemos se a cabeça neste instrumento possuiu algum significado para além de acrescentar à beleza do objeto, seu valor (uma talha mais hábil certamente implicaria custos mais elevados), e, por extensão, prestígio. Vulgarmente chamado de harpa, este instrumento é, na verdade, um pluriarco, ou alaúde de arco.
Exclusivo de África, o pluriarco distingue-se pela presença de múltiplos pescoços a saírem de um único corpo, cada um com uma corda presa. Os diferentes comprimentos e curvaturas dos pescoços possibilitam que as cordas produzam diferentes sons quando tangidas, mas a flexibilidade dos pescoçoso também torna o instrumento difícil de manter afinado. No Gabão, harpas e semelhantes são tradicionalmente tocados em cerimónias organizadas por sociedades e cultos dedicados ao conhecimento e cura esotéricos.