Gustave Moreau
No último Pensamento sobre Arte às Quarta-feiras, fomos deixados com uma ideia: poderia a Arte ser definida por si mesma, sem precisar se definir por fatores externos da peça, como sua utilidade, sua moral, alguma mensagem… Isso deixaria a Arte livre de qualquer coisa que tenha dado origem ao dito, no começo do século XIX, “l'art pour l’art” - a arte pela arte. Esse dito foi originalmente associado a Théophile Gautier, embora a ideia essencial tenha sido elaborada pelos românticos tardios, como Poe - e Baudelaire, tradutor e grande admirador de Poe, difundiu pelos círculos boêmios europeus o ideal de independência e autosuficiência que tão bem serviu à busca de libertação do espírito. Assim, a crise moral que havia emergido com a Revolução Industrial e com a vid urbana moderna encontrou a neutralidade moral e a falta de preconceito para tratar qualquer assunto, em qualquer estilo – agora a arte poderia buscar suas próprias justificações e provocar uma cultura subversiva. Essa mudança de paradigma literário logo veio a influenciar a pintura e não demorou para que James McNeill Whistler (o pinto da última quarta) afirmasse: “a arte deve ser independente de qualquer falatório – deve ser autônoma” e mesmo que defendesse que a arte “deveria apelar aos sentidas dos olhos ou ouvidos, sem se confundir com emoções alheias a ela, como a devoção, a piedade, o amor, o patriotismo e coisas desse tipo.” Oscar Wilde, inicialmente um amigo e, depois, um rival de Whistler, geralmente visto como a apoteose desse movimento estético decadente, também afirmou que “a arte nunca expressa nada a não ser a si mesma”. Essa perspectiva isola a arte em um domínio próprio. Wild coloca a coisa da seguinte maneira - “Não há tal coisa como um livro moral ou imoral. Livros são bem escritos ou mal escritos. Apenas” - se entendermos “livros” e um modo mais amplo, como se referindo a toda a arte, você concordaria com essa afirmação?
Artur Deus Dionisio