Filme Nova-iorquino

Um cinema em Nova Iorque, um desses pretensos palácios onde Hollywood nos transporta, no decurso de algumas horas, para um outro mundo - neste caso, parece que para o alto das montanhas. Transporta-nos enquanto espetadores, claro está, mas não a empregada, que já viu, provavelmente, o filme uma dezena de vezes e aguarda o seu término, atentando para os seus próprios pensamentos. A figura estática contrapõe-se ao ecrã, com o seu incessante fulgurar de ilusões de sítios não do aqui nem do agora. Assim como a maioria das personagens femininas nas pinturas de Hopper, esta foi baseada na sua esposa, Jo, que posou debaixo de um candeeiro no corredor do apartamento de ambos. Os seus esforços foram talvez recompensados com as muitas idas ao cinema e teatro que o casal fez. Conforme demonstram os inúmeros estudos preliminares para a cena, Hopper não só desenhou a mulher em variadíssimas poses para FIlme Nova-iorquino, mas também concebeu com minúcia a decoração da sala, até ao padrão da alcatifa. Vezes e vezes sem conta, desenhou os vestíbulos, as escadarias e as salas das suas casas de cinema favoritas, Palace, Globe, Republic e Strand.