Cântico dos Cânticos IV

Há 129 anos nascia Marc Chagall. Ele foi um artista russo-francês associado a diversos estilos artísticos e que criou trabalhos em praticamente todos os meios de arte, inclusive pintura, ilustração de livros, vitrais, cenários teatrais, cerâmica, tapeçarias e gravuras.

Segundo o historiador de arte Michael J. Lewis, ele tinha duas reputações básicas: ser conhecido como o pioneiro do modernismo e por ser um grande artista judeu. Ele vivenciou a “era de ouro” do modernismo em Paris, onde sintetizou as formas artísticas do Cubismo, Simbolismo e Fauvismo. A influência dessa última dando lugar ao Surrealismo. Embora tenha passado por todas essas fases, manteve-se enfaticamente um artista judeu, com um trabalho que era um grande devaneio onírico da vida em sua vila natal de Vitebsk. “Quando Matisse morrer,” comentou Pablo Picasso em 1950, “Chagall será o único pintor a entender o que a cor realmente é.”

Chagall fez esta pintura em 1958 como parte de uma série de ilustrações do Antigo Testamento. A obra foi intitulada Cântico dos Cânticos IV por causa do quarto capítulo do livro bíblico de mesmo nome. O livro é uma série de cânticos simbólicos a respeito de um casal de noivos. O primeiro verso desse capítulo diz, em parte: “O teu cabelo é como o rebanho de cabras que pastam no monte de Gileade.” (Foi um elogio, caso não tenha ficado muito claro.) Em momento algum o texto bíblico menciona cavalos voadores ou harpistas de rosto azul. Nem pássaros de cabeça pra baixo — tudo isso foi criação de Chagall. Ele não tenta retratar as metáforas descritas no cântico, ao invés disso captura o espírito dos versos. A poesia irradia das figuras fantásticas flutuantes, das cores quentes e não naturais e do improvável arranjo celestial.