Este retrato de Dolores Hoyos, além de perpetuar a memória da pessoa na mente dos seus familiares e amigos, mostra o realismo que caracterizou a linguagem pitoresca de Hermenegildo Bustos. O artista tinha interesse em reflectir, nas características de cada rosto, os fardos emocionais e psicológicos da pessoa retratada, ao contrário da idealização que cercava as pinturas feitas na segunda metade do século XIX.
Dolores Hoyos é representada como uma jovem que segura delicadamente nas mãos uma flor branca, uma magnólia. Esta flor representa nobreza de espírito e pureza, dentre outros simbolismos. Estes atributos poderiam ser típicos da juventude, ou simbolizar uma perda; a jovem está vestida completamente de preto, como se estivesse de luto, e apesar de ser uma mera interpretação, é também uma possibilidade.
Os acessórios utilizados pela jovem são simples: um par de brincos, um colar preso ao redor do pescoço por um fecho oval, e alguns anéis que não possuem muitos detalhes. Quando comparados ao inventário de jóias e acessórios usados por outras figuras ao longo da carreira do artista, isto pode sugerir que ele tenha sido criado na classe média. No vestido preto, o pintor consegue marcar algumas dobras com pinceladas ligeiramente mais claras, e as roupas, e o fundo, contrastam com a pele clara da menina, e com a flor branca.
Dolores Hoyos parece destemida, e apesar de direccionar o seu olhar directamente para a frente, este parece perdido. Ela possui uma expressão solene, como todas as pessoas retratadas por Bustos. É raro, ou quase impossível, de encontrar o contorno de um sorriso em qualquer um dos retratos, inclusive de crianças, mas, apesar da seriedade, o pintor é capaz de captar nas suas obras um traço que revela a personalidade que ele retratou.
Uma das preocupações de Hermenegildo Bustos era a de captar precisamente a fisionomia dos seus modelos, razão pela qual expressões fortes e rígidas, mas também subtis, podem ser encontradas no seu trabalho. Nas suas pinturas, elementos iconográficos, como a flor de magnólia representada neste quadro, também aparecem com frequência. A partir de 1850, uma série de elementos constantes aparecem no seu trabalho, tanto técnicos quanto formais; Durante vinte e dois anos ele usou chapas de aço, ou tecido, como apoio, e quase sempre apresentou as figuras num perfil três por quatro, em formato rectangular. É o caso desta obra, feita pelo artista em 1864.
— Maestro Carlos Uzcanga Gaona.
Apresentamos a pintura de hoje graças ao Museu Andrés Blaisten : )
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